Crítica – Kung Fu Panda 3

6 min


Com um desfecho que dá a entender que o arco de Po se encerrou, Kung Fu Panda 3 consegue com que uma franquia que começou promissora atinja todo o seu potencial artístico, entregando ao espectador uma ótima diversão que emociona, que diverte e que possui uma profundidade narrativa que enriquece e que marca quem assiste.

CRÍTICA SEM SPOILERS

Sinopse: Enquanto precisa lutar contra o adversário vindo do mundo dos espíritos Kai (J.K. Simmons), Po (Jack Black) descobre que não é o último urso panda vivo através da chegada de seu pai Li Shan (Bryan Cranston) ao Vale. Para evitar que Kai continue roubando os espíritos de mais mestres do Kung Fu, Po irá contar com a ajuda de seus amigos Tigresa (Angelina Jolie), Serpente (Lucy Liu), Macaco (Jackie Chan), Garça (David Cross) e Louva-Deus (Seth Rogen).


A DreamWorks Animation é o segundo estúdio de animação mais importante em Hollywood, só perdendo em termos de qualidade narrativa e técnica, além de arrecadação, para a onipresente Pixar. A verdade é que este é um panorama geral. Se analisarmos individualmente cada filme de cada estúdio veremos que a DreamWorks possui alguns longas melhores que o estúdio pertencente à Disney. Enquanto a Pixar possui em seu acervo títulos razoáveis como Carros (2005) a DreamWorks possui filmes excelentes como Como Treinar o Seu Dragão (2010) e Como Treinar o Seu Dragão 2 (2014). Com certeza a Pixar foi inspiração para a DreamWorks, já que é notável um refinamento do roteiro dos longas deste último com o passar dos anos. Embora a veia cômica dos longas da DreamWorks seja muito mais ressaltada se comparada com a sua concorrente, percebe-se a inserção de um coração nas suas animações mais recentes que não existia anteriormente. Sempre focado nas sequências de ação e nas piadas físicas ou referenciais, longas como aqueles da franquia Como Treinar o Seu Dragão e Kung Fu Panda têm um algo a mais que os coloca acima da média da qualidade geral das animações lançadas, e alguns deles até em pé de igualdade com a quase sempre excelente Pixar.

 
A dupla que dirige este Kung Fu Panda 3 é formada pela sul-coreana Jennifer Yuh Nelson, que havia dirigido o segundo longa da franquia, e o italiano Alessandro Carloni, que só havia dirigido uma outra animação de menor expressão. O que a dupla faz aqui é completar o arco dramático de Po, para a surpresa do espectador que não está acostumado a esse cuidado narrativo quando o que está em questão são animações. Tudo o que funcionou nos dois longas da franquia anteriores se repete neste terceiro filme: as piadas de Po, suas maneiras estabanadas, sua fome voraz, sua relação com os outros Cinco Furiosos, sua relação com seu pai super protetor, a falta de confiança em si mesmo e todo o fundo espiritual do Kung Fu. Os diretores continuam apostando em um roteiro com um ritmo ágil e frenético, para não deixar as crianças entediadas e encher os olhos dos adultos que conseguem aproveitar de maneira total toda a beleza visual do longa e o seu simbolismo espiritual. 
 
É fundamental para garantir o interesse do espectador que este longa continue mostrando que Po ainda não é o Dragão Guerreiro, embora o panda já tenha salvo a China diversas vezes. Com o conceito de Chi apresentado neste novo filme, fica evidente que ainda falta um passo para Po terminar o seu treinamento. Um passo não, dois, já que o fato de um aprendiz precisar se tornar um bom professor seja outro ponto do roteiro em que a animação se sustenta. Apresentar a Vila dos Pandas enriquece o personagem principal, que consegue finalmente entender de onde veio e o porquê. E mais interessante ainda é a conexão que este terceiro filme faz com o segundo, garantindo uma continuidade narrativa, ao mostrar o vilão do longa anterior perseguindo os pandas em um breve flashback narrado pelo pai de Po. O vilão também funciona ao ser o acúmulo supremo de todo o poder dos mestres do Kung Fu que ele vai derrotando durante a história, aumentando a sua ameaça. A dinâmica entre os Cinco Furiosos e Po é sempre rica e interessante, já que mostra a evolução e o respeito que os amigos têm entre si. Outra dinâmica que funciona é aquele entre os pais de Po, o biológico e o adotivo, que disputam a atenção do panda. A Vila dos Pandas com a particularidade de cada urso tem uma clara função narrativa que é percebida na virada do segundo para o terceiro ato, mas nem por isso deixa de entreter o espectador que se interessa em saber como os pandas se relacionam como uma pequena sociedade.
 

Novamente o longa falha ao não dar espaço para o desenvolvimento dos personagens coadjuvantes, como os Cinco Furiosos ou mesmo o Mestre Shifu, frustrando o espectador que gostaria de conhecer mais sobre aqueles personagens que, na superfície, são tão interessantes. Há alguns furos no roteiro que incomodam por facilitar situações que poderiam ser um pouco mais complexas para os personagens. Como Tigresa consegue chegar à Vila dos Pandas sozinha, sendo que o local é secreto? Por que Kai demora tanto para chegar ao local sendo que Tigresa chega tão rápido? Todo o arco envolvendo a relação dos pandas com o Chi é resolvido muito abruptamente, com uma troca de dois ou três diálogos, ignorando uma oportunidade interessante para desenvolver os pandas e seu passado. Os outros mestres do Kung Fu entram em cena e saem dela tão rapidamente, que o espectador não consegue nem ao menos saber qual animal o personagem está representando. 

A direção de arte do longa é belíssima, criando ambientes visualmente riquíssimos como o Palácio de Jade e o mundo espiritual. O filme todo é muito colorido e muito cheio de detalhes, captando de maneira mais intensa a atenção do espectador. A animação é fluída e bem realizada com detalhes que apenas engrandecem o trabalho da DreamWorks como fazer os pêlos de Li Shan mesclando a coloração preta mais desbotada e alguns até mesmo grisalhos, mostrando a idade avançada do panda. A trilha sonora segue a mesma linha apresentada nos longas anteriores da série, com algumas faixas mais na linha da cultura chinesa, enquanto outras evidenciam e pontuam a ação do longa. A montagem é frenética, sempre ligando uma sequência de ação na outra, garantindo assim o foco total do espectador. 

O grande charme dos filmes da franquia Kung Fu Panda são as sequências de luta, em que os mais diversos estilos de Kung Fu são utilizados pelos animais que os representam. As sequências são milimetricamente desenhadas, entregando lutas espetacularmente bonitas e agradáveis de acompanhar. O terceiro ato, em particular, é de uma energia e de um espírito que poucas animações possuem, sendo acompanhado de uma trilha sonora certeira, gerando momentos emocionantes e empolgantes, já entrando na lista dos melhores terceiros atos dos longas de animação da história. 

A dublagem nacional é eficiente e não decepciona. Contando mais uma vez com Lúcio Mauro Filho como Po, que em nenhum dos três filmes decepcionou, os dubladores têm os personagens nas mãos, sabendo as nuances e as personalidades de cada um, entregando uma ótima dublagem. Juliana Paes, que dublou a Tigresa no primeiro filme, novamente não volta para este terceiro longa, o que é uma boa notícia, já que a sua substituta, a dubladora Maira Góes, é uma das melhores na sua função. Uma curiosidade é que, na versão americana, Angelina Jolie conseguiu com que quatro de seus filhos com Brad Pitt dublassem os ursos pandas mais jovens. 

Com um desfecho que dá a entender que o arco de Po se encerrou, Kung Fu Panda 3 consegue com que uma franquia que começou promissora atinja todo o seu potencial artístico, entregando ao espectador uma ótima diversão que emociona, que diverte e que possui uma profundidade narrativa que enriquece e que marca quem assiste. 
NOTA: 8,0

INFORMAÇÕES

Título Nacional: Kung Fu Panda 3 (Kung Fu Panda 3)
Direção: Jennifer Yuh Nelson e Alessandro Carloni
Duração: 95 Minutos 
Lançamento: Março de 2016
Elenco: Jack Black, Angelina Jolie, Lucy Liu, Seth Rogen, Jackie Chan, David Cross, Bryan Cranston e J.K. Simmons.





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Derek Moraes

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